2 de julho de 2015

A "futebolização" da política brasileira

Ontem aconteceu algo que me deixou preocupado com o Brasil.

A câmara dos deputados aprovou, em primeiro turno, a redução da maioridade penal para casos de de homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte e crimes hediondos.
Devo dizer que tudo nessa aprovação veio em circunstâncias, no mínimo, pouco convencionais (pra não dizer muito suspeitas). Afinal, não é comum a câmara votar o mesmo tema duas vezes em 24 horas.

Mas não foi isso que me deixou mais preocupado. Pelo menos, não a curto prazo. Na verdade, essa medida era até bastante previsível. Coisas estranhas no governo são tão comuns que acho que acabamos por não dar mais a devida importância.

O que realmente me deixou preocupado foram as reações das pessoas a esse fato nas redes sociais.
Alguns comemoram como se fosse um gol do Brasil (ou da Alemanha, como preferir), quando na verdade, não passa de uma solução provisória. 

Ou alguém aqui duvida que daqui uns anos estaremos discutindo nova redução de maioridade penal, se essa for a única medida a ser tomada?!


Mas talvez o que me deixe mais embasbacado é o modo como são tratadas as pessoas que são contra essa medida são tratadas.

É sério mesmo que se eu for contra a redução da maioridade penal, sou comuna?!

Não é por acaso que fica a clara sensação de que, pelo menos aqui, a humanidade está emburrecendo. Onde está o respeito à opinião alheia?! Quer dizer que a pessoa não pode sequer ter uma opinião diferente da sua sem ganhar um "rótulozinho da moda"?!

Devo lembrá-los que política é, entre outras coisas, opinião. Temos a lei e temos diferentes formas de interpretação da mesma. E temos quem discorde de como a lei é interpretada. E tudo que for feito de errado pelos gestores vai prejudicar  os da esquerda, direita, comunas, coxinhas, ou seja lá qual for o apelido bacana que você estiver pensando em utilizar. TODOS estamos no mesmo barco. Não tem vencedor ou perdedor.


Levemos mais a sério a política. Não vamos futebolizar a política, por favor...

16 de março de 2015

Opinião - As razões dos protestos

Bom... vamos falar novamente sobre os protestos.  O povo brasileiro foi às ruas. De novo.
Prometo que serei breve...

Como ponto positivo, ressalto a grande presença de público em todos os cantos do país, apesar do fracasso que foram os últimos protestos (e sim, considero um fracasso porque no fim das contas, o povo acabou mostrando que queria muito mais barulho do que mudança).

No entanto, apesar da vontade, tenho que dizer que continua faltando um pouco de coerência nas razões que levaram o povo às ruas.

Vamos começar por aqueles que protestam contra os aumentos abusivos nos combustíveis e impostos. Parabéns. Vocês são os mais inteligentes desta turma! Acho que já disse isso em outra postagem: Impostos altos não seriam um problema se fossem repassados de volta à população, em forma de melhorias. O que está por trás dessa alta é a incapacidade, ou da falta de vontade do governo em acertar suas próprias contas. Não podemos pagar por eles.

Revoltar contra a "quebra" da Petrobras também é justo. Pela mesma razão.

Agora, se você está no protesto pra se manifestar contra o PT, amigo... Eu diria que você precisa arrumar uma atividade melhor. O PT não vai sair e, na remota hipótese disso acontecer (sério, é mais fácil um meteoro cair na Terra e dizimar a humanidade), as coisas não vão ser muito diferentes do que são hoje. Pelo menos, não em nosso favor. Isso porque os partidos podem ter legendas diferentes, filosofias diferentes, mas o modus operandi deles é basicamente o mesmo. E não há heróis na política.

E por fim, se você é contra a corrupção, há duas hipóteses: A primeira, é se você protesta pelo combate à corrupção na política, motivo pelo qual você faz bem protestar. É preciso acabar com a impunidade dos corruptos para recuperar a credibilidade e o rumo do crescimento no país.
Se você protesta pelo fim da corrupção, de uma forma geral, talvez precise empenhar suas energias em outra forma de ajudar o país. Talvez promovendo palestras ou oficinas. Podemos combater os atos de corrupção. Mas não podemos exigir um governo sem corrupção porque não há como tirar representantes honestos em meio a um povo corrupto. 

Para acabar com a corrupção no país, a mudança tem que ser cultural.

As "soluções políticas" e o que você precisa saber sobre elas

Estamos vivendo um momento histórico. Nunca houve no país um índice de aprovação tão baixo a um presidente como agora. Em tempos em que o impeachment é assunto corrente, vale ressaltar que, nem mesmo Fernando Collor, primeiro presidente da história do país a ser impedido de exercer cargos políticos, chegou a um dígito nesse índice. Há quem queira contestar esse número. Defensores ferrenhos de Dilma e do PT.

Entendam, eu não sou contra o PT. Nem a favor. Acho que ser pró ou contra um partido é uma tremenda burrice pois, no fundo, são todos iguais. Porém, não há como não citar o PT, pois é o partido da situação. Enfim... Continuemos.

Falam-se em várias formas de intervir nos rumos que o país está seguindo. E não há um consenso em decidir qual seria a melhor maneira de salvar a pátria (sim, no sentido literal da palavra). Particularmente ainda me sinto meio perdido em meio a tanta panfletagem. Acredito que hajam centenas na mesma situação.
Não sou nenhum especialista, mas vou esclarecer um pouco sobre as "soluções", e as possíveis consequências, segundo o meu ponto de vista e as leituras que fiz recentemente. Tentem não entrar em pânico.


Impeachment: Mais segura, não menos obscura. O primeiro caso de Impeachment no Brasil nos deu dois anos de segurança seguidos de oito anos de FHC e os tucanos. Dessa época, lembro-me do meu pai perdendo emprego em pelo menos duas oportunidades. A grande desvantagem que temos em relação àquela época são os vice presidentes. Na era Collor, o vice era Itamar Franco. Hoje, é Michel Temer. Não querendo evitar trocadilhos infames, mas o sobrenome de ambos já diz muito do que se precisa saber sobre eles.
Vamos ignorar este fato...
Ainda há de se considerar o fato de que um impeachment não irá destituir o PT do poder (antes de criticar, volte ao segundo parágrafo). E se o impeachment de um presidente já é algo difícil de ocorrer, do vice é praticamente impossível.
E outra... A queda de Dilma e a entrada de Michel Temer se não viesse acompanhada de uma reforma geral nos demais cargos e na visão política e econômica do país, não mudaria absolutamente nada. Ou seja: na prática um impeachment não traria qualquer benefício a não ser o de levantar a auto estima do povo brasileiro.

Intervenção Militar: É uma opção que tem muitos adeptos atualmente. Há muitas divergências em relação a essa abordagem. A mais recente que eu li está aqui. Pelo pouco que eu entendi até agora, não há forma constitucional das forças armadas intervirem em favor do povo. Eles estão a serviço da nação, sim. Mas são diretamente subordinados à presidência. Portanto, não há possibilidade de que eles intervenham sem que isso seja considerado um golpe. E certamente, isso nos levaria ao próximo item.

Regime Militar: Também conhecido como ditadura.
Na teoria dos mais indignados, a intervenção militar destituiria os atuais governantes dos seus cargos e colocaria no poder pessoas competentes. A teoria é muito linda...
Na prática, quem seriam essas pessoas competentes?! Eu não sei. Você, que está lendo, também não sabe. E as forças armadas, você acha que sabem?!
Bom, na prática, o que teremos é um novo regime militar. Foi exatamente o que aconteceu na "intervenção militar" de 1964. Leiam um pouco aqui e pensem se a situação não lhes parece familiar.
A ditadura acabou em 1985. Eu nasci dois anos depois e não vivi essa época. Acredito que dê pra contar nos dedos pessoas que tenham boas lembranças do regime militar. Se é que existem.

Não vou iludir ninguém. O momento é crítico. E não importa o que aconteça nos próximos dias, ninguém vai conseguir mudar o Brasil de uma hora pra outra. Creio que, de fato, nenhuma das alternativas anteriores trará grandes benefícios ao brasileiro. E quem pensa diferente, no meu entender, não tem muita noção do que está acontecendo.

Há de se lembrar; A presidente, embora seja o representante maior do país, não é o único. E nem todos temos acesso a ela. E quem acha o contrário precisa conhecer um pouco melhor a estrutura política do país.

O brasileiro está revoltado. E precisa mostrar isso. Mas diariamente, e da forma correta. Façamos nossa indignação chegar às autoridades maiores por meio de quem tem acesso a elas, ou seja, as autoridades menores. Sejamos "chatos" com eles todos os dias, para que eles tomem providências mediante as autoridades maiores.
E se de tudo, não conseguirmos mudar nada nos próximos dois anos, é hora de começar a mostrar, mais uma vez a indignação. Desta vez, nas urnas. Caso contrário, toda essa insatisfação, para aqueles que deveriam nos representar, não será nada além de mais uma baderna.